Gestão com Propósito: os desafios por trás da construção de candidaturas femininas competitivas
Por Graziella Milantoni
Secretária Nacional de Gestão do Podemos Mulher Nacional
A cada ciclo eleitoral, ouvimos com mais frequência que as mulheres estão ganhando espaço na política. E sim, estamos avançando. Mas quem está nos bastidores da formação e apoio às candidaturas femininas sabe que esse avanço é fruto de um trabalho árduo, constante e que ainda enfrenta grandes obstáculos estruturais e culturais. Como Secretária Nacional de Gestão do Podemos Mulher, minha missão tem sido transformar o que, por muitos anos, foi apenas um discurso em prática política efetiva.
Nos últimos anos, a atuação do nosso setorial feminino foi além do incentivo: estruturamos uma verdadeira rede de suporte às mulheres que escolheram disputar um espaço no poder. E os números demonstram que isso fez diferença.
Em 2020, o Podemos elegeu 193 vereadoras, 24 vice-prefeitas e 9 prefeitas. Já em 2024, saltamos para 369 vereadoras, 48 vice-prefeitas e 17 prefeitas. Isso não é resultado do acaso, mas de uma estratégia nacional que envolveu mais de mil presidentes municipais do Podemos Mulher, 24 presidentes estaduais atuantes e um time técnico comprometido com a formação, acolhimento e orientação das pré-candidatas em todo o Brasil.
No último pleito, a Central de Relacionamento da Mulher (CRM) atendeu 1.190 candidatas, realizou mais de 32 mil ligações, respondeu mais de 105 mil mensagens e promoveu 29 treinamentos que impactaram diretamente 3.671 mulheres.
Esse esforço não foi apenas técnico — foi político e simbólico. Porque apoiar uma candidatura feminina é também enfrentar o ciclo de desestímulo que atinge milhares de mulheres que sonham com a política, mas abandonam o caminho ainda na pré-campanha. Segundo pesquisas, 25% desistem por desinteresse, 19% por sentirem que “não conseguem competir com homens”, e outras por falta de apoio familiar ou da estrutura partidária.
Além disso, a violência política de gênero é uma realidade persistente: 66,7% das prefeitas brasileiras afirmam ter sofrido algum tipo de violência durante a campanha ou o mandato. São agressões verbais, pressões psicológicas, silenciamentos e, em alguns casos, até violência física.
Essa realidade reforça a importância da gestão de um setorial como o nosso: não se trata apenas de cumprir cotas eleitorais — que, aliás, ainda são desrespeitadas em mais de 700 municípios —, mas de garantir condições reais de disputa, acesso ao Fundo Eleitoral de forma proporcional e tempo de rádio e TV justo, como assegura a Emenda Constitucional 117.
A gestão do Podemos Mulher Nacional precisa atuar em diversas frentes ao mesmo tempo: oferecer capacitação e estratégia, cobrar o cumprimento da legislação dentro e fora do partido, acolher emocionalmente e politicamente as candidatas, e — talvez o mais
importante — fortalecer a autoestima política de cada mulher que se dispõe a lutar por sua cidade, estado ou país.
Sim, ainda há muito por fazer. Mas olhando para os resultados de 2024, sabemos que estamos no caminho certo. Transformar apoio institucional em mandatos reais é possível. E seguiremos firmes com o propósito de construir uma política com mais mulheres, mais justiça e mais representatividade.