A dor que se repete é também um chamado à responsabilidade
O combate ao feminicídio é dever de todos — especialmente de quem governa.
Escrevo este artigo não apenas como dirigente partidária, mas como mulher, cidadã e alguém que se recusa a aceitar que a morte de mulheres seja parte da rotina social. É inadmissível que, em pleno 2025, ainda estejamos debatendo o básico: o direito das mulheres à vida e à segurança. Mas, infelizmente, os números e os fatos mostram que estamos longe de garantir isso.
Até abril deste ano, o Brasil já registrou dezenas de casos de feminicídio apenas em um único estado. No Rio Grande do Sul, foram 31 feminicídios confirmados — sendo seis em apenas um dia, durante o feriado da Páscoa. Essas mortes ocorreram em diferentes cidades, mas compartilham um mesmo traço: a violência de gênero que persiste, silenciosa e muitas vezes naturalizada.
Esses números não são apenas estatísticas; representam vidas interrompidas, famílias devastadas e uma sociedade que ainda falha em proteger suas mulheres. A maioria dos casos envolve companheiros ou ex-companheiros das vítimas, evidenciando a persistência da violência de gênero como um fenômeno estrutural.
Temos no Brasil legislações robustas, como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio, além de medidas como Delegacias da Mulher, medidas protetivas, tornozeleiras eletrônicas e a Delegacia Online da Mulher. No papel, esses instrumentos parecem suficientes. Mas, na prática, ainda há uma enorme distância entre a legislação e a realidade das mulheres que vivem em situação de violência.
Faltam estruturas adequadas. Faltam profissionais capacitados e com sensibilidade. Faltam abrigos seguros. Em muitas cidades do interior, sequer há delegacias especializadas. O atendimento é precário, desumanizado, e em alguns casos, inexistente.
Ainda assim, não se trata apenas de infraestrutura. Trata-se de prioridade política. O combate à violência de gênero precisa ser mais do que um discurso em datas simbólicas. Precisa ser política pública com orçamento garantido, planejamento contínuo e escuta ativa das mulheres.
É verdade que houve alguns avanços. As Salas das Margaridas, o aumento do uso de tornozeleiras eletrônicas e a ampliação de canais de denúncia são passos importantes. No entanto, sozinhos, não bastam. Precisamos de uma política ampla, integrada e eficiente — que não trate a violência como um problema isolado, mas como um reflexo de desigualdades históricas e estruturais.
Enquanto militantes, lideranças e representantes de movimentos de mulheres, temos um papel central nesse processo. É nossa responsabilidade cobrar, propor, fiscalizar e construir pontes entre as necessidades da base e a atuação institucional. Nosso compromisso deve ser com a vida, com a justiça e com o futuro de meninas e mulheres que não podem mais esperar.
Mas essa luta não é apenas nossa. É da sociedade como um todo. Precisamos formar uma cultura de não violência, de respeito e de equidade. Isso começa na educação, nas famílias, nas redes sociais, no ambiente de trabalho. Todos e todas somos responsáveis por mudar essa realidade.
Por fim, deixo aqui um apelo e um compromisso: não podemos aceitar a dor como algo normal. Cada mulher que morre é uma derrota coletiva. Mas também é um chamado à ação. Que possamos transformar o luto em luta — e a indignação em transformação.
Ainda há tempo. E há força. Que sigamos em frente. Juntas.
Wine Dandara Mesquita de Medeiros
Presidente Municipal do Podemos Mulher de Porto Alegre e Vice-Presidente do Podemos Mulher do RS
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