“NÃO NOS MATE”: O GRITO DAS MULHERES DO ACRE CONTRA O FEMINICÍDIO
Por Luiza Araujo – Presidente Estadual do Podemos Mulher do Acre
Na última sexta-feira de julho, 25/07, estive nas ruas ao lado de dezenas de mulheres acreanas pedindo por uma frase curta, mas urgente: “NÃO NOS MATE”. Esse não é apenas um slogan de protesto, mas um pedido de socorro. Um grito que nasce da dor de ver nossas mães, irmãs, filhas e amigas sendo vítimas de uma violência que insiste em permanecer entre nós: o feminicídio.
O Acre figura entre os estados com as maiores taxas de feminicídio da Região Norte. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2023 a taxa foi de 1,7 mortes por 100 mil mulheres, acima da média nacional de 1,4 (Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024, FBSP). Em números absolutos, foram 15 feminicídios apenas no ano passado no estado (Fonte: FBSP 2024). Cada caso carrega uma tragédia, muitas vezes marcada por histórico de violência doméstica e omissão do Estado.
Esse não é apenas um tema de segurança pública, é também uma causa que me toca profundamente. Em 2009, perdi uma sobrinha para o feminicídio, e desde então, essa luta passou a fazer parte da minha vida de forma muito mais próxima. Como mãe solo, enfrentei desafios importantes, inclusive um relacionamento abusivo. Já vivi momentos difíceis com relação à guarda dos meus filhos e acompanhei de perto a dor de crianças que perderam suas mães de maneira violenta. Tudo isso reforça meu compromisso em trabalhar por políticas que protejam e acolham as mulheres.
O Acre já conta com ferramentas legais como a Patrulha Maria da Penha (Fonte: Governo do Estado do Acre, 2023), mas ainda há muito a ser feito. A estrutura de atendimento às mulheres em situação de risco precisa ser ampliada. Falta capilaridade, integração entre os serviços e, sobretudo, vontade política. Em muitos municípios, mulheres com medida protetiva seguem expostas ao perigo por falta de fiscalização efetiva ou acolhimento imediato (Fonte: Relatório da Comissão de Direitos Humanos da ALEAC, 2023).
Nossa representatividade política também é escassa: das 24 cadeiras na Assembleia Legislativa, apenas três são ocupadas por mulheres (Fonte: Assembleia Legislativa do Acre, 2024). Isso se reflete na formulação de políticas públicas e no ritmo com que as mudanças chegam às que mais precisam.
Quando aceitei o convite da deputada federal Renata Abreu para liderar o Podemos Mulher no Acre, sabia da responsabilidade que estava assumindo. O Podemos é um partido que acredita no protagonismo feminino, e aqui no estado essa bandeira precisa ser ainda mais firme. Estamos mobilizando, ouvindo, acolhendo e propondo. Esse movimento é coletivo. E está crescendo.
Nosso objetivo é fortalecer a rede de proteção já existente, fiscalizar sua atuação e garantir que nenhuma mulher que denuncie volte para casa com medo. Também queremos ampliar os canais de escuta, oferecer capacitação e garantir políticas públicas estruturadas, que olhem para a mulher como cidadã, não como estatística.
O grito continua: não nos matem.
Mas junto dele, nasce uma nova promessa: nós vamos enfrentar. E transformar.
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